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segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Vampira aos Treze - Capítulo 6 - Acordando

Obrigada pelos comentários, agora vou voltar pra aula, mas espero coseguir postar pelo menos um capítulo por dia! Boa leitura! Continuem comentando!


6 – Acordando


Eu mergulhei na escuridão. Continuava a sentir a dor e o fogo, cada vez mais forte e mais intenso do que antes – mesmo eu não acreditando ser possível.
Os gritos e a dor continuaram também. Eu apenas não lutava mais.
Não sei por quanto tempo o fogo continuou aumentando, aumentando. Lembro-me de quando ele se concentrou no meu coração, aliviando – mesmo que eu não sentisse – leve e lentamente as outras partes, uma a uma. Eu quase não podia sentir o alivio, porque o fogo que estava no meu pulso, não desapareceu, só mudou de lugar. Foi pro coração. E então eu mergulhei na escuridão de novo. Era como se eu morresse e ressuscitasse em questão de segundos.
Foi então que muito tempo – muito tempo mesmo – quando eu já não acreditava mais ser possível o fogo aumentar, ele aumentou horrivelmente, mas concentrado apenas no meu coração. Todo o resto estava livre. Mas eu não sentia nada além da dor. Porque diabos eu não estava morrendo? A morte deveria ser libertadora não deveria? Não deveria estar mais doendo.
Eu já quase não conseguia respirar antes, mas naquele momento em que o fogo aumentou horrivelmente no meu coração, eu realmente senti o ar ir embora de vez. Meus pulmões estavam apertados e queimando horrivelmente. Eu estava sufocando. Então era isso? Depois de tanto tempo – pra mim quase um século – eu estava morrendo? Morrendo sufocada numa queimação? Morrendo sufocada com fogo? Tudo bem. Eu aceitaria. Contanto que a dor parasse, para mim estava tudo bem.
Eu caí na escuridão de novo, imaginando se desta vez eu estaria morrendo mesmo.
De repente, o fogo cessou. O fogo, a dor. Tudo. – pensando bem, não. Minha garganta ardia ainda. Mas não chegava nem aos pés do ardor de antes. Esse perto do outro não passava de uma irritação na garganta.
Me dei conta de uma coisa. A dor e o fogo não haviam ido embora. Eles estavam lá, era eu que tinha ficado mais forte e conseguia suportá-los.
Eu... Eu acho que eu conseguia respirar agora. Inspirei rapidamente. Uma enxurrada de cheiros invadiu minhas narinas. Cheiro de madeira, feno, palha, e muitos outros que eu não consegui identificar. Eu ainda estava de olhos fechados. De repente, ouvi um barulho de porta sendo aberta. A porta rangeu. Pela velocidade do som, percebi que a porta estava a quatro metros e meio de mim. O que? Como eu sabia isso? A morte fazia com que as pessoas virassem gênios?
Um segundo depois, ouvi claramente passos. Era um barulho baixo, mas extremamente claro. Junto com os passos, senti um cheiro. Um cheiro muito bom. A coisa mais parecida com que eu conseguia compará-lo era maçã verde e gelo. Eu sei, é uma comparação estranha. Mas era um cheiro gelado e doce. Ouvi também uma respiração. Uma respiração baixa. Calma e alerta ao mesmo tempo. – como eu conseguia identificar isso? – Algo em minha mente deu um sinal de perigo. Abri os olhos. Meu corpo fez um movimento rápido demais, me deixando numa posição estranha. Eu estava... Agachada. Acho.
Eu via um milhão de detalhes diferentes. Micro partículas de poeira dançavam a meio centímetro do meu nariz. Eu via nelas todas as sete cores do arco-íris e uma oitava cor, que parecia uma mistura das outras sete. Olhei além da poeira. Vi a porta de madeira que rangeu. Vi uma teia de aranha. Uma pequena aranha andava despreocupada lá. Ouvi uma leve batida de coração. Era dela? – podia ser. Era tão baixa que eu quase não conseguia ouvir. – Ouvi também a sua baixa respiração. – como eu conseguia?
Vi mais ao longe. A porta me revelava uma noite escura, silenciosa. Fora a respiração da aranha, ouvia uma outra. A primeira que ouvi.
Um barulho estranho rompeu pela minha garganta. Parecia... Um rosnado. – eu estava rosnando?
Olhei pra fonte da respiração calma e alerta. Então eu o vi encostado na parede.
– Becca? Está tudo bem, eu não vou te machucar. – Jared disse. Como se fosse impossível, ele estava mais bonito do que antes. Sua pele pálida, seu nariz, sua boca, seus olhos. Tudo perfeito. Eu o via com muito mais clareza do que antes. Meu corpo se movimentou rápido de novo, e então eu estava ereta, de pé. Sua voz era doce.
– Jared... – falei. Minha voz saiu estranha. Era doce e suave. Como... Como a de Jared. Quando falei, parecia que mil sininhos estavam tocando ao mesmo tempo. Minha voz... Era linda.
– Oh! – ele exclamou. – você está... Linda. Perfeita. A vampira mais linda que eu já vi em toda a minha existência. – ele me olhou cheio de ternura.
Ele andou dois passos em minha direção. Eu andei até estar a 44 centímetros de distância dele. Eu havia entendido o que eu era agora assim que o vi. Eu não havia morrido. A dor, o fogo, não era a morte. Era a transformação.
– Eu posso tocá-la? – ele perguntou, tirando-me de meus pensamentos.
Assenti com a cabeça. Que mal faria ele tocar a minha pele? Ela deveria estar fria. Toquei meu braço com a ponta dos dedos. Minha mão estava fria. Senti vontade de segurar em meu próprio braço. O fiz. Minha pele estava fria, e dura. Muito dura. Parecia que eu estava apertando uma pedra. Ele me olhava enquanto eu me tocava.
Então num ímpeto, seus braços largos envolveram as minhas costas. Jared me abraçou. Fique confusa. Eu achei que ele ia me tocar, pra ver se minha pele estava fria como a dele, e não me abraçar. Eu não sei por que, mas eu retribuí o abraço. Envolvi meus braços na cintura dele. Foi tão bom. Eu sentia falta daquilo. Um abraço era tudo que eu queria desde que meus pais morreram. Mas havia alguma coisa estranha. A... A pele dele. A pele de Jared. A pele dele não estava mais fria. Não estava quente, mas não estava fria. Estava morna.
Surpresa, me libertei do seu abraço. Ele me olhou confuso.
– Jared. Sua pele! Sua pele não está fria!
Seu rosto franzido de surpresa se desfez num sorriso. Ele riu.
– Era só isso? – perguntou.
– Como assim só isso? Antes... Antes a sua pele era tão gelada! Eu não entendo! – falei frustrada.
Ele acariciou minha bochecha com as costas dos dedos e riu.
– Minha pequena. Minha pele ainda está gelada. É que a sua também está. Então pele gelada com pele gelada dá um toque quase quente.
Ele ainda ria. Eu ri junto com ele, e quando me dei conta do que estava fazendo, eu estava abraçando Jared de novo. Uma sensação tão boa me inundou quando fiz isso. Apertei mais meus braços em torno dele.
– Becca. Becca cuidado. – ele disse alerta. O soltei imediatamente.
– O que eu fiz? – perguntei. Eu não havia feito nada de errado. Só o abracei!
– Você está muito forte agora, porque ainda tem vestígios do seu sangue humano. Está mais forte do que eu.
– Ah! Então eu estava te esmagando? – perguntei dando uma risada. Fiquei maravilhada com a minha voz quando ri. Era tão linda.
Ele riu também.
– É por assim dizer.
Minha garganta ardeu violentamente. Levei instantaneamente as mãos ao meu pescoço. Todos os movimentos que eu fazia eram estranhos. Eu pensava em fazê-los e quando via, eu já tinha feito. Eles eram rápidos demais.
– Eu sei. – Ele disse olhando pro meu pescoço. – Você precisa caçar.
– O que? – eu não estava entendendo. Tudo era tão novo pra mim!
– Sua garganta não está ardendo? – eu assenti com a cabeça. – Então. Isso é sede.
– Ah. – minha voz saiu preocupada. Eu estava preocupada. Eu não sabia caçar.
– Venha, vamos caçar. Eu te ajudo.
Ele pegou a minha mão e fomos andando calmamente pelo celeiro até lá fora.

domingo, 1 de agosto de 2010

Vampira aos Treze - Capítulo 5 - Fogo

Obrigada pelos comentários! Continuem comentando!


5 – Fogo


Eu não conseguia parar de gritar de dor e me debater no chão. O fogo parecia só aumentar e se espalhar a cada segundo. Eu não sentia meus pés nem as minhas mãos. Parecia que eu estava perdida dentro de mim mesma. Eu tentei sem sucesso abrir meus olhos de novo. Parecia que eles estavam grudados com uma super cola.
Era como se eu estivesse dividida. Tinha a parte que era eu mesma, que era o núcleo – por assim dizer –, tinha uma parte estranha, como um manto de escuridão, que chegava cada vez mais perto de mim, e tinha a parte do fogo e da dor – os dois juntos – que cobria todas as outras partes – ou as outras camadas – de mim naquele momento.
A escuridão parecia tão densa que – se eu conseguisse encontrar minha mão – eu conseguiria pegá-la. E ela parecia avançar furiosamente sobre mim. Algo me dizia que se eu não lutasse contra ela eu morreria. Mas eu já estava tão cansada, eu duvidava que tivesse forças pra lutar. E porque lutar contra ela se ela me levaria à morte, se ela acabaria com a dor e finalmente eu poderia descansar em paz?
Mas ainda assim, mentalizei meus braços empurrando-a para longe. Mantive a imagem dos meus braços empurrando um manto preto com toda a força pra longe. O manto preto era a escuridão. Mentalizar com alguma coisa sólida que eu realmente conseguisse empurrar era mais fácil.
Os gritos eram incessantes. Estavam machucando meus ouvidos. Na verdade, nem parecia que era eu que gritava. A iniciativa de gritar não partia de mim. Eu simplesmente gritava sem parar, da mesma forma que me debatia. Eu sabia que não adiantava. Na verdade, só piorava. E aquele cleck que eu ouvi com certeza era de uma costela quebrando. Mas eu não conseguia parar.
– JARED! JARED! AAAH! – gritei de novo. Os gritos não mudavam. Ou eu gritava só emitindo o som, ou eu gritava chamando o Jared, que por sinal não adiantava nada chamá-lo, ou eu gritava que estava queimando, ou gritava pedindo para ele fazer parar a queimação. Ou eu gritava tudo de uma vez.
Isso me fez pensar. Ele mentiu. Jared mentiu pra mim. Ele inventou toda aquela baboseira, toda aquela ladainha pra depois me matar. Porque – eu não sabia como –, mas era isso que ele estava fazendo. Eu ainda tinha sido inocentemente idiota de acreditar numa mentira tão esfarrapada. É claro que ele estava me matando. Eu duvidada que qualquer pessoa pudesse resistir a tamanha dor, muito menos uma garota de 13 anos mal alimentada como eu.
Como eu havia sido tola! Vampiro! Ahan. Eu só não entendia duas coisas: Porque ele queria me matar, e porque ele inventou tudo aquilo e não me matou logo de uma vez. Mas agora não importava. Eu iria morrer mesmo. Eu já estava morrendo. Parecia que a cada momento a escuridão ficava mais forte e eu mais fraca. Eu queria desistir.
– AAH! AAH! JARED! JARED! ESTÁ QUEIMANDO! EU ESTOU QUEIMANDO! AAH! PARA! AAH! POR FAV... AAH! POR FAVOR, FAZ ISSO PARAR! AAH! – a cada grito que eu dava as minhas costas se arqueavam pra dentro e depois despencavam no chão com um baque surdo.
– POR FAVOR, FAÇA PARAR! AH! POR FAVOR! JARED!AAH! – eu já nem conseguia mais respirar. Se fosse fazer uma comparação em relação à escuridão, ela estava na altura do meu queixo. “Puxe-a pra baixo! Puxe-a pra longe!” – ordenei a mim mesma. Eu quase não conseguia ouvir meus pensamentos com os gritos.
– JARED! AAH! NÃO! JARED! – uma palavra nova fora adicionada aos gritos. “Não”. Eu tentei realmente falar com ele. Eu não sabia mais como falar. Na verdade, sabia, era abrindo a boca e fazendo um som. Mas eu não conseguia saber onde estava a minha boca e não encontrava a minha voz. O fogo aumentava.
Eu não conseguia mais. Desisti. “Adeus” – pensei. Agora era o meu fim. A escuridão tomou conta de mim.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Vampira aos Treze - Capítulo 4 - Dor

Comentem!!!!!!!!

                                                          
                                                                             4 – Dor


Seus lábios frios e gélidos tocaram a pele de meu pescoço. Apertei os olhos. Seus lábios se separaram e algo rompeu a pele da minha garganta. Apertei mais ainda os olhos pra não gritar. Doeu muito. Senti algo quente escorrendo no meu pescoço. Olhei para Jared pelo canto do olho. Só consegui ver o cabelo dele e uma parte de seu rosto curvado em meu pescoço. O que era aquilo? Ele estava me transformando em vampira? Sua boca fazia movimentos se sucção. Pelo que ele falou, ele estava fazendo errado. Ele parecia que estava... Sugando. Doía. Muito. Eu não conseguia aguentar.
– Para! – berrei. – Para! Para! Para!
Jared levantou a cabeça. Eu gritei de horror com o que vi. O homem lindo, elegante que eu havia visto, tinha desaparecido. Havia lá um monstro. Seus olhos estavam fora de foco, seus dentes afiados arreganhados a mostra, sua boca com sangue escorrendo de todos os lados. Seus dentes e sua boca estavam cheios de sangue. Cheios do meu sangue. Ele rosnou pra mim. Rosnou, como um animal. Como um cachorro. Eu queria ajudá-lo. Eu não sei por quê. Ele estava me contando histórias estúpidas e depois me disse que não ia me matar. Só por isso eu já simpatizei. E o jeito doce com que ele falou comigo, para que eu não me assustasse... Jared ficou me encarando e rosnando, seus olhos indo dos meus olhos para o sangue em mim. Comprimi a mão no pescoço e rolei de lado.
Rolei um belo pedaço pra longe dele. Eu não tive tempo de pensar, mas essa foi a única idéia. Ainda com a mão no pescoço me virei para olhá-lo. Ele saltou de onde estava até mim, se agachando a centímetros da minha jugular. Antes que ele me mordesse de novo, tentei falar alguma coisa.
– Não! Para! Você vai me matar! – consegui gritar pouco antes de dar um grito de dor. O que ele tinha posto em mim com os dentes? Doía tanto!
Incrivelmente, ele fechou os olhos e levantou. Correu pra longe de mim, e ainda de olhos fechados falou:
– Desculpe. – sua voz saiu entre dentes. Ele começou a andar até a porta do celeiro. Inexplicavelmente, eu comecei a ofegar.
– Aonde... Aonde você vai? – falei com dificuldade.
Ele trincou o maxilar antes de responder. Parecia que estava tentando não respirar.
– Eu não... Eu não posso ficar aqui. Eu vou matá-la. Eu não vou poder me controlar... – ele disse antes de sair.
Eu fiquei deitada no meio do feno. Tirei a mão do pescoço e olhei pra ela. Estava coberta de sangue.
De repente, uma dor vinda do nada me derrubou no chão. Doía muito, muito mesmo. Era horrível e excruciante. Sem saber por que, eu comecei a me debater no chão com toda a força. Isso só piorava a dor, mas eu não conseguia parar. Comecei a ouvir gritos, muito altos, que estavam machucando meus ouvidos. De onde vinham esses gritos? Parecia tão perto de mim. E havia alguma coisa de familiar naquela voz.
– JARED! JARED! – a voz berrou, e então eu percebi que era eu que estava gritando. Os berros e os gritos era eu.
Eu não sabia por que estava fazendo aquilo. Eu não tinha mais controle sobre o meu corpo. Eu me retorcia e me rebatia no chão com muita força, e gritava sem parar. De repente, senti algo estranho no meu pescoço. Como se... Como se queimasse. Como se alguém estivesse botando fogo em mim. Mas não havia ninguém lá além de mim.
– JARED! – eu arfei. – JARED EU ESTOU QUEIMANDO! – gritei. Meus olhos estavam abertos com muita dificuldade. Meu corpo foi pra cima e bateu com muita força no chão enquanto eu gritava. Ouvi um “cleck”. Alguma coisa havia quebrado em mim. Eu urrei de dor. Meus olhos se fecharam, eu não conseguia mais deixá-los abertos. A queimação se espalhou do pescoço para o meu braço também.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Vampira aos Treze - Capítulo 3 - Explicações

Comentem por favor!

                                                                  
                                                     3 – Explicações

– Você acredita em mim agora? – ele perguntou, com sua voz doce voltando.
Assenti com a cabeça.
– E o mais importante, eu me alimento de sangue humano.
Eu tremi dessa vez não de frio, mas de medo.
– Pare! Você está m...me assustando! – implorei. O borrão que era ele correu até mim. Jared parou ajoelhado ao meu lado. Ele pegou minha mão com as duas mãos. Estavam geladas, tanto quanto estava o sobretudo quando eu o vesti. Jared olhou fundo em meus olhos amedrontados, e sorriu envergonhado.
– Perdoe-me. Eu não quero assustá-la, só quero que você escute e entenda querida. – ele acariciou as costas da minha mão. – Eu sei, é monstruoso, mas confie em mim, é tudo verdade. Por favor, eu lhe imploro, confie em mim. – ele era lindo. Podia ser vampiro, ser um monstro, mas era lindo. E a forma com que ele falava; tão doce... Não sei por que, mais a partir daquele momento, eu passei a acreditar no que ele dizia.
Ele se levantou e começou a andar de um lado pro outro enquanto falava.
– Eu sou frio, forte, corro rápido e deixo as pessoas, as minhas vitimas, deslumbradas. Nós, os vampiros, também temos os sentidos aguçados. Eu vejo mínimos detalhes a metros de distância. Por exemplo – ele correu até a porta do celeiro – eu consigo ver uma formiga andando a dois centímetros do seu saco de pão. Olhe. – eu olhei, e lá estava, uma formiga muito pequena. Empurrei-a para longe com a mão. Olhei pra ele, que sorriu – Eu ouço muito bem. Eu consigo ouvir o seu coração batendo e consigo ouvir um leve farfalhar do seu sangue circulando na veia da sua garganta. – Ele abriu um grande sorriso. Seus dentes brilharam. Minha mão voou instantaneamente para o meu pescoço. – Eu tenho olfato aguçado. Eu consigo sentir o cheiro do seu sangue, quente, doce, apetitoso... – Seus olhos saíram de foco por um instante. Apertei mais a mão no pescoço e fechei os olhos. – Calma. Está tudo bem, sem medo. – ele me tranquilizou. – Eu consigo identificar o gosto de alguma coisa apenas com uma lambida. E eu posso saber de que material uma coisa é feita, com um simples toque.
“Eu não saio ao sol. Na verdade, eu até poderia se quisesse, mas ficar no sol, nos deixa cansados, como um humano que passa o dia fazendo exercícios.
Nós vampiros somos imortais. Nós vivemos para sempre amenos que outro vampiro nos desmembre e queime nossas partes. Nossa aparência nunca muda. Meu cabelo não cresce, eu não engordo, até porque eu não como comida humana. Eu não sinto fome, apenas sede de sangue. Eu não transpiro e não preciso ir ao banheiro. Meu coração não bate. Se eu for transformado em vampiro com 15 anos, eu vou ter a aparência de quinze anos pra sempre.” – eu engoli outro pedaço de mais um sanduíche, ainda calada sem dizer nada. “Você sabe quantos anos eu tenho?”
– Não. – respondi sinceramente, terminando de comer outro sanduíche. – Uns 25? – era isso que eu achava pelo menos.
– Eu aparento ter 25 anos, pois fui transformado em vampiro quando tinha 25 anos, em 1777. Eu tenho 120 anos.
Fiquei boquiaberta. Podia até ser, mas que não parecia, era verdade. Ele tinha mesmo a aparência de 25 anos.
– Não se surpreenda. Eu não durmo. Jamais. Por mais que tente, eu só vou conseguir deitar e ficar pensando. Está entendendo?
Ele fez uma longa pausa enquanto me olhava.
– Sim, mas uma coisa eu não entendo. Se você vai me matar – porque certamente ele iria – porque você está me contando tudo isso?
– Oh não, não! Você está muito errada! Eu não vou matar você, eu vou transformá-la. Vou transformar você numa vampira.
Antes que eu perguntasse o que ele queria dizer com aquilo, Jared voltou a falar.
– Um vampiro transforma um humano quando ele morde esse humano e consegue se controlar e não chupa o sangue dele. Aí, em três dias, a transformação está completa e o humano vira um vampiro. Mas só quem tem alto controle suficiente consegue se controlar e não matar a pessoa. Se ele apenas morder e parar de chupar o sangue a pessoa se transforma, pois o vampiro já colocou nela o veneno que nós temos em nossas presas. Não são muito grandes, mas são extremamente afiadas e venenosas – ele me mostrou os dentes. – Bem, acho que é só. Acho que te expliquei tudo.
Ele veio e sentou-se ao meu lado.
– Você não come nada mesmo? – perguntei curiosa.
– Não. Não tem gosto, embrulha o estômago e depois eu tenho que vomitar. É horrível.
Os sanduíches haviam acabado e eu estava com muito sono.
– Que horas são? – perguntei bocejando.
– Duas e quinze da manhã. – ele disse olhando num pequeno relógio de pulso.
Deitei minha cabeça no feno e bocejei de novo.
– Pronta? – ele me olhou atencioso.
– Eu estou com tanto sono... Você não pode deixar pra amanhã?
– Pra que esperar? – ele deu um meio sorriso e se agachou ao meu lado.
– O quê...? – ia perguntar por que ele tinha tanta pressa, mas de novo, ele me interrompeu.
– Vou tentar não te matar. – ele sussurrou em meu ouvido e abaixou-se perto do meu pescoço.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Vampira aos Treze - Capítulo 2 - Vampiro

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2 – vampiro


Abri a porta de casa e enquanto entrava procurei um minúsculo lampião no bolso do meu vestido azul-água. Como tecnicamente ninguém morava na casa, a luz foi cortada. Acendi o lampiãozinho com certa dificuldade naquele breu. Apontei-o para o grande corredor e fui até a cozinha. A luz acinzentada bateu num saco de plástico em cima da mesa. Eu sabia o que tinha lá. Pão francês e um pouco de presunto. Fiz cinco sanduíches com cinco pães e cinco fatias de presunto. Não demorei muito tempo. Eu tremia de frio de minutos em minutos. Coloquei os sanduíches no saco do pão e andei despreocupada até o celeiro. A porta estava levemente encostada quando entrei. Havia uma luz estranha perto dum monte de palha. O celeiro cheirava a produto de limpeza. Não era ruim. Jared olhava para a porta fazendo uma cara feia que se transformou em um belo sorriso no instante em que entrei.
– Achei que você tinha fugido.
Eu franzi a testa.
– Eu deveria? – perguntei, parada em pé a alguns passos dele.
– Sim. – ele sussurrou, tão baixo que eu nem tive certeza se foi ele que falou ou se foi um silvo do vento. – Sente-se ali – ele apontou para um monte de feno e palha que estava no canto do celeiro, perto da parede.
Obedecendo, fui me sentar. Exatamente naquele canto, havia um foco de luz muito estranho. Olhei para o teto. Havia um buraco, uma telha faltando. Ela devia ter quebrado e caído. Franzi a testa pro buraco.
– Eu arranquei. – Jared falou. Olhei para ele confusa.
– O quê?
– A telha, eu arranquei. Eu vou falar e preciso que você me veja. – tentei me lembrar de ouvir algum barulho vindo do celeiro. Com certeza arrancar uma telha faria algum barulho.
– Como...? Como você fez... – ele me interrompeu.
– Shh! Coma mais e fale menos. Ah! Tome – ele tirou o sobretudo do corpo e o jogou em minha direção. Ele caiu no chão ao meu lado. Peguei-o com uma das mãos e passei a mão nele. O tecido era grosso, mas não muito macio. Em vez de vesti-lo, o coloquei sobre as minhas costas. Um frio percorreu a minha espinha e eu tremi. O sobretudo estava frio. Tão gelado quanto a mão de Jared estava quando me tocou na praça.
– Desculpe – sua voz soou doce e fraterna.
Eu peguei um sanduíche no saco e comecei a degustá-lo.
– Eu sou um vampiro.
Não me contive e soltei uma risada sarcástica. Num segundo ele estava a um metro de distancia de mim, e no outro, seus olhos vermelhos brilhavam furiosamente a centímetros do meu nariz.
– Uma pessoa normal teria olhos vermelhos assim? – sua voz doce virou irritada, quase furiosa. Seu hálito gélido bateu em meu rosto. – Uma pessoa normal teria essa força? – ele puxou facilmente e sem barulho outra telha, estendeu ela pra mim; fechou a mão e fez uma leve pressão, depois tornou a estender a mão pra mim. No lugar da telha marrom, havia um monte de pó marrom. Eu fiquei parada. Como ele conseguia fazer aquilo? Ele simplesmente havia triturado a telha em 30 segundos! – Uma pessoa normal conseguiria correr tão rápido? – ele estava ao meu lado, e então um borrão percorreu o celeiro, e de repente ele estava do lado oposto ao que estava antes. Ele sumiu, dando o lugar ao borrão correndo de novo, e quando olhei, ele estava perto de mim. Certo, se ele queria me assustar ele havia conseguido.

domingo, 25 de julho de 2010

Vampira aos Treze - Capítulo 1 - Lembranças

                                      1 – Lembranças

De repente as imagens voltaram a minha mente. O dia da minha transformação. Eu odiava lembrar da dor.
A noite de 14 de abril de 1897 estava fria para uma noite de primavera. Meus pais Sophie e Alexander Seaks haviam morrido uma semana atrás, num acidente de carro. Eles estavam voltando de Lucca, uma cidadezinha perto de Florença, onde eu nasci e onde nós morávamos. Eles tinham falado pra mim que iriam até uma loja de Lucca comprar alguns produtos para a floricultura de mamãe. Eu estava na casa de uma amiga, do qual nem lembro mais o nome. Na volta, houve uma colisão. O carro do meu pai bateu de frente com o carro de um homem, Joseph Agillerra. – eu lembrava o nome dele claramente, pois eu fiz questão de matá-lo quando virei vampira. – Meus pais morreram na hora. Um casal que passava por lá chamou a policia e os bombeiros, mas já não adiantava. Eu fiquei sabendo pela mãe da minha amiga. A informação da morte dos meus pais foi passando de um pra outro, até chegar a mim.
Eu não tinha ninguém. Minha família eram os meus pais. Não havia mais ninguém. Avós, tios; nada. Levaram-me para um abrigo imundo. Eu fugi e passei a viver escondida num canto da nossa casa, que estava abandonada. Algumas telhas caídas, as paredes ameaçando desabar... Ninguém se atrevia a entrar lá.
Eu estava envolta em um mundo de dor. Não havia ninguém com quem eu pudesse conversar ou viver. A única possibilidade era eu morar com a família da minha amiga, se ela não tivesse se mudado para o Chile. Eu não tinha muito dinheiro – só tinha o dinheiro que meus pais guardavam pra mim no futuro. Ainda assim, era pouco o dinheiro que estava numa bolsinha vermelha dentro do meu guarda-roupa. –, e só o usava para comprar comida. Eu estava realmente um farrapo humano de 13 anos.
Na noite do dia 14 de abril – minha última noite como humana - eu resolvi ir até uma praça que tinha perto de casa. Às vezes eu ia lá. Mas ia principalmente de noite, porque eu não gostava de incomodar as pessoas. Cortaram a energia e a água de casa. Eu fedia. As pessoas que me viam me olhavam torto. Então eu trocava o dia pela noite. Eu dormia de dia, e de noite saía. Só saía de dia para comprar comida ou alguma outra coisa que eu precisasse.
Sentei num banco vazio, e fiquei olhando para o céu, imaginando o rosto dos meus pais nas estrelas. Devia ser por volta das oito e meia da noite.
De repente, ouvi um movimento bem próximo de mim e me virei. Sentado ao meu lado, havia um homem. O mais belo homem que eu já havia visto em toda a minha vida. Ele tinha cabelo curto ruivo e liso, a pele pálida; extremamente branca. – achei que ele devia ter alguma doença. Ele era branco de mais. – Ele tinha áreas roxas em baixo dos olhos, sobrancelhas grossas e escuras, um nariz reto, lábios finos e... Olhos assustadores. Olhos vermelhos. Olhos escarlates. Eu devia ter tido medo. Eu devia ter corrido. Mas não. Eu fiquei encantada com a beleza dele. Embora assustador, era lindo. Um deus.
– Não tenha medo. – ele sussurrou. Sua voz era suave e seu hálito era doce. Eu não consegui tirar os olhos dele. – Mas, agora me diga, qual é seu nome bela garota? – ele tocou meu queixo com os dedos. Sua pele era muito, muito fria. E dura. Mas eu não tive medo. Estava extasiada com a beleza dele e com a sua voz convidativa.
– B... B... Becca – gaguejei. Ele me deixava confusa. – Becca Se... Seaks.
Ele abriu um amplo sorriso. Por um instante, eu perdi a linha de raciocínio. Meus olhos ficaram presos no sorriso perfeitamente lindo dele.
– E, quantos anos você tem querida? Pressuponho que você tenha uns dez anos... – Ele olhou para a lua, que estava cheia, e depois olhou pra mim. – Estou certo?
– Não senhor, eu tenho 13. – foi estranho chamá-lo de senhor. Ele era tão perfeito, não devia ter mais de vinte cinco anos.
– Oh! – ele exclamou. Sua voz era suave como seda. – Você tem um rosto muito angelical para sua idade. – ele refletiu. – é claro que seu rosto está oculto por toda essa sujeira, mas eu vejo potencial. Conte-me criança, porque você está assim, tão... Maltratada?
Eu odiava quando as pessoas me chamavam de criança. Eu não era mais criança. Eu geralmente reclamava, mas a sua beleza me deixava muda. Demorei um pouco para entender que ele havia feito uma pergunta.
Olhei para o chão para poder me concentrar no que dizia.
– Meus pais morreram, e eu não tenho ninguém. Levaram-me para um abrigo, mas eu fugi. Eu vivo nas ruínas da casa onde eu morava com meus pais. Ela está abandonada.
Olhei-o quando terminei de falar. Ele sorriu presunçosamente. Tive a impressão de que sussurrou algo como: “casa abandonada hein? Interessante...”, mas não tive certeza.
– Que pena. – ele ainda sorria, quase desmentindo o que acabara de dizer.
Eu tremi de frio. Aquela noite estava estranhamente gélida.
– Molto Benne. – falou tão baixo que eu mal pude ouvir. – Você está se comportando melhor do que o esperado. Desculpe-me, mas terei que ser franco com você agora. Mas primeiro, está confortável para uma longa e estressante conversa?
– Não muito. – fui sincera.
– Já que você cooperou me diga o que você precisa para estar confortável, e seu desejo será uma ordem. – ele riu. Lembro de ter pensado que ele era algo como um gênio da lâmpada. – Seja franca querida. – seu pedido mais parecia uma ordem.
– Eu estou com frio e um pouco de fome. – respondi
– Imagino que deve ter alguma comida em sua casa certo?
– Sim. – eu fiquei confusa.
– Você não se incomoda de irmos para lá não é? Tenho certeza que a sua casa é bem mais confortável do que esse banco no meio da rua.
Eu não conseguia me concentrar se ficava olhando nos olhos dele, e não conseguia olhar pra baixo. Fiquei estática por instante. Ele se levantou.
– Vamos? – perguntou, ajeitando a roupa. Pela primeira vez, eu prestei atenção no que ele vestia e não no seu rosto ou em que ele falava. Ele usava calça e blusa pretas, botas de couro preto e um sobretudo marrom. Ele estava muito elegante. Ele não era muito alto. Logicamente mais alto do que eu, mas não era assim tão alto.
– Siga-me – falei levantando-me e andando na frente dele até a minha casa.
Algo em sua aparência lindamente assustadora me deu confiança para dizer o que disse. Ele me dava confiança. Com ele não teria perigo. Eu só não enxerguei que o problema era ele.
Minha casa não era longe, então segui na frente sem olhar para trás, só sabendo que ele seguia atrás de mim porque ouvia seus passos. Minha casa era grande, e tinha um celeiro, onde antigamente tinham algumas galinhas, que morreram fazia dois anos. Parei em frente à porta do celeiro e me virei para ver se ele ainda estava lá.
– Aqui é mais seguro para uma conversa. Pelo menos as paredes não estão ameaçando cair. – soltei uma risada curta e sem humor. – Eu vou pegar alguma coisa pra comer na cozinha. – soltei a tranca do celeiro. – Pode entrar... É... – naquele momento me dei conta de que não sabia o nome dele. – Qual é seu nome mesmo?
Coloquei a ponta dos dedos na testa tentando me lembrar se ele havia revelado seu nome em algum momento.
– Jared Kimn. – ele respondeu rapidamente. Surpreendi-me que ele tivesse respondido. Imaginei que ia dizer que não importava.
Fui para a cozinha enquanto ele entrava lá dentro. Um pensamento horrível me ocorreu. Um ser monstruoso e com certeza perigoso estava na minha casa.

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